Acho que todo esse tempo venho me enganando, "tá tudo bem", eu sempre digo. Duvido que esteja. Duvido que vá ficar. Duvido que um dia eu pare de me sentir assim. Vai ser sempre assim, de agora em diante.
Malas no carro, alguns abraços e um adeus definitivo. "Agora é pra valer", penso "minha vida não é mais aqui". Acho que eu daria uma ótima atriz, estou enganando a todo mundo e parece que o monstro da sinceridade desapareceu. Sumiu. Evaporou. Mas deixou rastros em forma de palavras que me levaram a esse texto. Por que eu ainda sinto que é nessa cidade onde tudo está, onde eu deveria estar? É por que talvez seja verdade. O problema, a grande questão aqui, é que a verdade me assombra.
Uma pessoa normal já teria derramado lagrimas. Não me assusta o fato de que isso não tenha acontecido, acho que nem vai. Não fique horrorizado, é só que... eu sou assim. Nunca fui de me apegar as coisas. Me apeguei. Me ferrei.
É isso que está causando essa guerra dentro de mim. Soldados vão morrer, mas acho que ninguém ganha. Só estou esperando o cessar fogo, a bandeira branca.
Depois disso tudo que aconteceu nos últimos dias, vai demorar um pouco para que eu possa guardar de volta esse sentimento sem nome de volta pra sua caixinha no fundo do baú, no fundo do sótão. Acho que é saudade, e acho também que nunca senti isso antes.
"Mas, e agora?", a minha parte preocupada e roedora de unhas pergunta.
"Não adianta dar chilique. Não dá pra fazer nada. É esperar que o tempo passe e torcer para que melhore, para que cicatrize. Se não der, é só fingir. Estamos todos acostumados a isso", a outra parte responde com calma, mas também preocupada por dentro.
E estamos mesmo. Mas, tendo o maior defeito como a sinceridade, não sei se vou aguentar por muito tempo. Na verdade, acho que a guerra já está acabando. Estamos todos feridos, mas fingimos estar bem. Só não quero explodir e destruir tudo o que sobrou.